ECONOMISTA ELOGIA ATUAÇÃO DO BANCO CENTRAL E ESPERA QUE COPOM MANTENHA A TAXA DE JUROS EM 13,75%: ‘MELHOR DECISÃO’

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Em entrevista à Jovem Pan News, o economista-chefe da XP, Caio Megale, falou sobre como tem sido a questão dos juros no cenário global e também sobre o anúncio do novo arcabouço fiscal do país

Nesta terça-feira, 21, começa a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que definirá a nova taxa básica de juros (Selic) do país, a ser divulgada na quarta-feira, 22. O mercado é praticamente unânime na avaliação de que a Selic será mantida no patamar atual de R$ 13,75%. Para falar sobre o assunto, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o economista-chefe da XP, Caio Megale, que também acredita na manutenção da taxa: “Banco Central deve manter ainda a taxa de juros alta por um tempo, até que ele tenha certeza que a inflação de fato desacelere. Porque ela ainda está rodando acima da meta. Claro que outros fatores têm que ser colocados em conta. O mundo passa por uma incerteza no setor financeiro importante. Aqui no Brasil, nós tivemos um efeito relevante no mercado de crédito, por conta do evento das Lojas Americanas e outros eventos (…) A melhor decisão do Banco Central é manter a taxa de juros e manter as portas abertas para reagir da forma que for necessário dependendo de como evoluir o cenário”.

“O Banco Central se pauta pela inflação. A inflação tem rodado em níveis altos no Brasil, no resto do mundo também, e os Bancos Centrais vem fazendo um esforço para, passados os efeitos principais da pandemia, cuidar desse efeito colateral da luta contra a pandemia, que foi a inflação mais alta. Agora os juros vem subindo, no Brasil já subiu bastante e em outros países está subindo, para justamente trazer a inflação para baixo. Os últimos indicadores ainda mostram que a inflação segue rodando em um nível perto de 6% a 6,5%. O mercado de trabalho está aquecido, as vendas no varejo, de forma geral, ainda em um nível forte e um setor de serviços muito positivo”, avaliou.

O economista explicou porque o aumento das taxas de juros virou uma questão global e defendeu que os Bancos Centrais devem se manter na missão de controlar a inflação por meio deste dispositivo: “A minha avaliação é que a inflação subiu por questões de oferta e demanda. As questões de oferta estão sendo amenizadas. Por exemplo, o preço do petróleo chegou a US$ 130 com a pandemia e com a guerra, agora está mais perto de US$ 70. A gente já tem um alívio dessa questão da oferta, mas os temas de demanda continuam fortes. O mais adequado são os Bancos Centrais continuarem focando em trazer a inflação para baixo mais rápido possível, porque quanto mais tempo eles demoram, mais a inflação vai se solidificando nesses níveis, e começa aquela inflação inercial, os preços vão subindo simplesmente porque a inflação passada foi alta. Aí vai ser bem mais complicado reduzir os juros lá na frente”.

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“O Banco Central dos Estados Unidos vem subindo os juros lá fora. Já percebeu que a inflação era mais persistente e precisava de um reequilíbrio. Aquele remédio amargo que dá um trancozinho na economia e te faz se reequilibrar na frente. Na verdade, o nosso Banco Central aqui acordou mais cedo para o problema e fez o ajuste antes. O Brasil está à frente nesse sentido. Quando os bancos centrais começaram a subir juros, dado que o fenômeno de inflação é um fenômeno mais global, também contribuiu com o nosso esforço de reduzir pressões de preço. O Banco Central de lá vai continuar subindo os juros, em um ritmo mais devagar, porque a questão dos bancos trouxe muita incerteza (…) Acho que ele continua subindo os juros, tentando trazer a inflação para baixo, mas deixando as portas abertas, como eu acho que o Banco Central do Brasil vai fazer. Caso a crise financeira se releve muito mais profunda do que a gente consegue enxergar até agora, a política pode ser revertida rapidamente e a injeção de liquidez volta”, argumentou.

O presidente Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, disse nesta segunda-feira, 20, que as taxas de juros no Brasil são “pornográficas”. Ele criticou os atuais valores, dizendo que são inconcebíveis e que é necessário uma redução. Caio Megale concordou que as taxas estão elevadas de fato, mas ponderou que cabe ao governo criar as condições para que o BC baixe os juros: “Não sei se pornográfico é o melhor adjetivo. Mas é uma taxa de juros muito alta, sem dúvida nenhuma. Um pouco antes da pandemia, a nossa taxa de juros estava em 4,5%, hoje está em 13,75%. Nós descobrimos a receita de como trazer a inflação para baixo e de como trazer a taxa de juros para baixo. A taxa de juros, antes da pandemia, era 4,5% e não haviam sinais de superaquecimento, não haviam sinais de inflação acelerada. E qual foi essa receita? Acho que tem a ver com a sinalização mais clara da disciplina fiscal”.

“O teto de gastos trouxe previsibilidade sobre a dinâmica dos gastos públicos, que ao longo de muitas décadas cresceram de forma acelerada no Brasil, o que gera pressão por emissão de moeda, monetização e acaba gerando pressão de inflação. No momento que isso foi equacionado lá atrás as taxas de juros puderam cair significativamente. A gente precisa voltar para aquela situação das taxas de juros de 4,5%. Os juros estão muito altos no Brasil. Vamos criar as condições para que isso aconteça. O arcabouço fiscal é bastante importante, porque é o arcabouço fiscal que vai dar essa previsibilidade e essa segurança de que a dívida pública não vai ser crescente e, portanto, não vai ter o risco dos surtos inflacionários que caracterizaram a história econômica brasileira ao longo das últimas décadas”, declarou.

Fonte: Jovem Pan