A adoção em massa da inteligência artificial generativa no ambiente de trabalho desencadeará uma onda de perda de empregos e ainda levantará questões éticas, afirmou a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A entidade fez um alerta às economias mais ricas do mundo para que se preparem para uma reviravolta em seus mercados de trabalho, revelou reportagem do diário britânico Financial Times. O relatório aponta que 27% das ocupações estão sob alto risco de automação.
De acordo com a organização que reúne as economias mais desenvolvidas do mundo, cuja sede é em Paris, o rápido desenvolvimento da IA generativa, combinado à facilidade de adoção dessas novas tecnologias, “sugere que as economias da OCDE podem estar à beira de uma revolução da IA que poderia mudar fundamentalmente o trabalho.”
Em seu relatório sobre emprego, a organização alerta também que os possíveis benefícios, como maior satisfação no trabalho e ganhos de produtividade, devem ser ponderados em relação aos efeitos negativos das ferramentas de IA, como o ChatGPT, especialmente para as chamadas ocupações altamente qualificadas.
Citado pelo jornal britânico, o diretor de Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais da OCDE, Stefano Scarpetta, ressaltou que, embora o impacto da IA generativa no mercado de trabalho ainda seja limitado, está “claro que o potencial de substituição continua significativo, levantando temores de redução de salários e perda de empregos”.
De acordo com o relatório, as ocupações que correm maiores riscos em áreas como finanças, medicina e direito são atividades altamente qualificadas, que representam cerca de 27% dos empregos nos países-membros da OCDE, que estão entre os mais desenvolvidos do mundo. A participação é ainda maior em países como Itália, Alemanha e França, mas menor no Reino Unido e nos Estados Unidos.
O levantamento da OCDE ouviu 2 mil empregadores e 5.300 trabalhadores da indústria e de finanças em sete países-membros da organização. Entre os que participaram da pesquisa, muitos trabalhadores disseram que as ferramentas de IA melhoraram sua satisfação no trabalho ao automatizar tarefas perigosas ou tediosas.
A pesquisa também mostra que uma parcela significativa dos trabalhadores (três em cada cinco) temem perder o emprego para uma ferramenta de IA nos próximos dez anos. Aqueles que se preocupam com redução de salário estão na mesma proporção. E três em cada quatro dizem que a IA acelerou o ritmo do trabalho, enquanto mais da metade se preocupa com sua privacidade.
Questões éticas
Em entrevista ao FT, o diretor de Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais da OCDE também apontou os desafios éticos do uso da IA “em relação à proteção de dados e privacidade, transparência, preconceito e discriminação, tomada de decisão automática e responsabilidade.”
Para garantir que os benefícios da IA não superem os riscos pelo uso da nova tecnologia, a OCDE disse que há “uma necessidade urgente de agir” e insistiu que os membros da organização coordenem suas respostas para evitar “uma corrida ao fundo do poço”.
Em comunicado que acompanha o relatório, o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, afirma que os países precisam avaliar a adoção de políticas de longo prazo sobre o uso da IA no trabalho, além de “continuar a estimular a cooperação internacional para maximizar os benefícios ao mesmo tempo em que se administram os riscos negativos.”
A OCDE ressalta que o desenvolvimento da IA vai demandar novas habilidades e tornar outras obsoletas. “Trabalhadores de baixa qualificação e mais velhos, mas também trabalhadores mais qualificados, precisarão de treinamento. Os governos precisam encorajar os empregadores a fornecerem mais treinamento, integrarem as habilidades de IA à educação e apoiarem a diversidade na força de trabalho de IA”, afirma a entidade.
Fonte: O Globo